No artigo Tudo o que você queria saber sobre WMS em 5 perguntas, tentei explicar da forma
mais didática possível o que é, o que faz, as vantagens e desvantagens e quais
os principais desafios de se implantar um sistema WMS. Desta vez, concluindo a
série WMS, darei dicas de como implantar esse sistema.
1ª DICA - NÃO É PRA
TODO MUNDO.
A verdade é que ter uma operação logística automatizada não
é uma dádiva divina, requer muito trabalho, por isso nem todas as empresas
estão preparadas para utilizar o WMS. Antes de se aventurar na implantação
deste sistema faça uma análise de sua estrutura e processos logísticos. Uma das
características mais marcantes do sistema é a classificação das áreas do
armazém em PICKING (separação rápida de itens não consolidados) e PULMÃO (armazenagem de itens
consolidados), estão se a sua estrutura física de armazenagem não possibilitar
esta adaptação será necessário investir em novas estruturas de armazenagem. Vou
dar um exemplo, se a estrutura de armazenagem de sua empresa é constituída
apenas de DRIVE-IN (estrutura porta pallet com diversos níveis de
profundidade), como criar um sistema de picking?
Você deve estar se perguntando, mas não é possível realizar a operação sem uma
área de picking? É possível, assim
como é possível dirigir um carro apenas com os pés, mas será que é o melhor a
fazer? Talvez eu tenha exagerado na comparação, mas todos os processos automatizados
que são o diferencial deste sistema estão atrelados à área de picking, então o resultado de sua
implantação será muito menos recompensador sem a criação desta área.
Analise os seus processos, se a sua empresa dá entrada em
notas fiscais sem o material físico e fatura sem saldo em estoque, eu não lhe recomendo
esse sistema. O WMS foi concebido para controlar o saldo FÍSICO da empresa, diferentemente dos módulos de controle de
estoque tradicionais que focam no saldo CONTÁBIL,
por isso ele é bastante restritivo quanto a movimentação física do estoque. Não
vejo motivo algum de se implantar um sistema para burlar suas regras o tempo todo.
Analise a sua estrutura de TI (tecnologia da informação), a
automação do WMS com coletores de rádio frequência ou RFID vão necessitar que
esse setor trabalhe em outro patamar, principalmente o RFID, por isso se o seu
analista de TI for o sobrinho da esposa de seu chefe que sabe instalar
impressoras, pare e pense! É melhor ter uma operação com papel mais lenta do
que uma operação automatizada parada.
Visite outros clientes da empresa de software que já utilizam
o WMS, analise a operação deles e compare com a sua. Seria prudente contratar
uma consultoria de logística para fazer uma análise e diagnóstico de sua
operação, caso não seja viável contratar este serviço, peça ajuda a outros
profissionais de logística dentro de seu networking.
2ª DICA – ATENÇÃO TOTAL
AO CADASTRO.
Provavelmente é a tarefa mais negligenciada de toda a
empresa, pois é trabalhosa e chata de fazer bem feito, mas o cadastro é o
divisor de águas entre o sucesso e o fracasso de um sistema WMS. Pense nisso,
um software processa as informações inseridas e apresenta um resultado,
portanto se você inserir LIXO no
sistema o resultado será LIXO PROCESSADO.
Um das funções automatizadas mais interessantes desse sistema é a sugestão
automática de armazenagem que utiliza a volumetria da caixa (m3) e compara
com disponibilidade de espaço nas áreas de armazenagem (m3), por
isso se o seu cadastro negligencia as informações logísticas dos produtos
(peso, volume, unidade de medida, tipo de embalagem, etc.) esta função e muitas
outras não vão funcionar.
Aconselho a revisar o cadastro antes de iniciar a
implantação do WMS. Elimine itens inativos, complete as informações logísticas
dos itens ativos e crie um procedimento de cadastramento de novos itens que não
permita cadastros incompletos. Se você não tiver alguém na equipe que possa
executar esta revisão, contrate um estagiário, os de engenharia de produção
costumam ser os mais produtivos, mas não implante o WMS com um cadastro mal
feito.
3ª DICA – CUIDADO COM
AS CUSTOMIZAÇÕES.
Não caia na tentação de modificar o sistema para atender aos
seus processos, ao seu jeito de trabalhar, adeque os seus processos a lógica do
sistema sempre que possível. A maioria dos sistemas WMS foram desenvolvidos com
diversos clientes de benchmarking e
na maioria das vezes utilizam as melhores práticas de gestão do mercado, por
isso tente segui-las.
A solução padrão não vai lhe atender 100%. Isto é fato!
Então alguma coisa você necessitará customizar por isso lhe darei 3 sugestões:
1) Defina um escopo de projeto muito bem detalhado,
especificando TODAS as entregas. Não
importa que pareça insignificante, se for uma entrega de projeto, COLOQUE NO CONTRATO.
2) Não mude o escopo. Uma vez aprovado o escopo de
trabalho não MUDE-O, se for
necessário termine o projeto e contrate mais customizações, mas não mude o
escopo, pois abrirá um precedente perigoso no contrato.
3) Descreva com a maior riqueza de detalhes
possível como será validada cada entrega do projeto e mantenha o poder de
decisão final SEMPRE em suas mãos.
4ª DICA – ESCOLHA OS
EQUIPAMENTOS ADEQUADOS

Alguns cuidados na hora de escolher os equipamentos:
- Dimensione bem a quantidade de operadores que utilizarão
coletores de dados e compre pelo menos 1 reserva;
- Compre baterias extras para cobrir toda a sua demanda.
Cada bateria dura em média 7 horas então se a sua empresa opera 24hs você
necessitará de 2 baterias reservas para cada coletor;
- Defina bem o tipo de coletor e impressora para o ambiente
de trabalho. Os equipamentos possuem diversos níveis de blindagem contra
umidade e poeira, por isso não adianta comprar a impressora mais barata feita
para escritório e colocá-la no galpão, pois a poeira irá destruí-la em questão
de meses;
- Se a sua empresa possui câmara fria compre equipamentos apropriados
para esse ambiente, coletores e antenas comuns não resistem muito bem a
temperaturas negativas;
- Cuidado com as “sombras” de sinal das antenas no armazém.
Compre a quantidade certa de antenas e lembre-se que quanto mais próximo a
estrutura porta pallet estiver do teto do armazém maior será a sombra de sinal;
- Defina os modelos de etiqueta que serão utilizados e se
possível compre uma impressora para cada tipo de etiqueta. Geralmente o formato
da etiqueta de expedição é muito maior do que o formato utilizado para a
armazenagem, por isso se você comprar apenas uma impressora terá de trocar a
bobina várias vezes ao dia o que diminuirá a vida útil do equipamento além
atrasar a operação;
- Tenha um equipamento de reserva sempre que o mesmo
impactar significativamente a sua operação, no exemplo da impressora, caso você
utilize dois tipos de etiquetas e terá uma impressora para cada tipo, ou seja,
duas impressoras, não há necessidade de ter uma impressora reserva já que na
pior das hipóteses você poderá trocar a bobina da impressora de acordo com a
necessidade da operação enquanto a outra impressora está consertando,
entretanto se a sua operação demandar apenas um tipo de etiqueta compre uma
impressora reserva, nem que seja uma de mesa mais barata, mas não dependa
apenas de um equipamento.
- Se comprar equipamentos Motorola, compre a garantia
estendida chamada SERVICE FROM START, o SLA deles é de 24hs para coletar o seu
equipamento defeituoso e se o conserto for demorar eles substituem o
equipamento danificado por outro. Não sei como outras marcas tratam a garantia
estendida, mas acredito que sigam os padrões Motorola.
5ª DICA – NÃO TENTE
IMPLANTAR 100% DAS FUNCIONALIDADES DE UMA SÓ VEZ
Geralmente os sistemas WMS possuem uma gama vasta de
funcionalidades, por isso não caia na tentação de querer todas elas de uma só
vez, pois o projeto de implantação ficará longo e custoso demais. Inicie com as
funções básicas de rastreabilidade e o mínimo de automação, ressuprimento
automático da área de picking e
sugestão automática de picking são um
excelente começo. Garanta que todas as etapas do processo estão integradas com
os coletores de dados, como recebimento, conferência cega de recebimento,
armazenagem, mudança de endereço de armazenagem, picking e conferência cega de expedição. Deixe a sugestão
automatizada de armazenagem e o packing
automático (empacotamento) para um segundo momento, pois estas funcionalidades
requerem uma matemática bastante complexa que será melhor compreendida e
aplicada após um período de familiarização com o sistema.
6ª DICA – VENDA A
IDÉIA
Depois de realizar uma análise da situação atual da
estrutura logística e compará-la com um estado futuro otimizado pelo sistema
WMS, os diretores e os principais executivos de sua empresa vão comprar o
projeto, disso eu não tenho dúvida. Agora não se esqueça de vender o projeto
para os outros stakeholders, os demais envolvidos que serão impactados pela
mudança do sistema, mas sobretudo pela mudança de filosofia de trabalho. O WMS
visa mitigar erros humanos por isso ele é bastante restritivo com relação as
movimentações de estoque e como disse na primeira dica, não há muito espaço
para “jeitinhos”. Essa mudança cultural geralmente é traumática, pois as outras
partes não entendem os ganhos logísticos e quando são de outras áreas,
acreditam que as mudanças apenas dificultarão o seu trabalho. Faça uma
apresentação para todos os envolvidos, explique todos os ganhos para a empresa,
mas principalmente mostre os ganhos para o departamento de cada envolvido.
Mesmo fazendo uma excelente apresentação ainda assim haverá resistência e a
melhor maneira de superá-las é com um PATROCINADOR
de peso, de preferência o presidente ou dono da empresa, aquele que diz será
assim e pronto!
7ª DICA – VALIDE BEM
O SISTEMA ANTES DE MIGRAR
No artigo anterior, Tudo o que você queria saber sobre WMS em 5 perguntas, expliquei o desafio de
migrar o sistema. Esse processo é bastante trabalhoso, pois todos os itens,
cada embalagem de armazenamento, terá de ser processada, etiquetada e validada
pelo coletor de dados. Não se apresse para migrar, confirme que todos os parâmetros
estão corretos, que todos os cadastros estão coerentes, que a estrutura de tecnologia
da informação está confiável e que todos os BUGs foram tratados, antes de iniciar a migração.
8ª DICA – PLANEJE A
MIGRAÇÃO
Depois de validar o sistema você está pronto para migrar e
começar a operar pelo WMS, mas espere. Planeje a migração, será toda de uma só
vez num final de semana ou aos poucos? Se a sua empresa possuir mais de um
armazém você irá migrar todos simultaneamente ou um por vez? Antes do migrar a
empresa inteira talvez você queira migrar apenas uma família de produto para
testar o sistema na base de produção, pois como dizia o Romário, “treino é
treino, jogo é jogo”. Se você planejar cada passo da migração eu garanto que
irá migrar uma vez só, caso contrário, que Deus lhe guie!
9ª DICA – NÃO DESISTA
A última dica, mas talvez a mais importante é não desista!
Será difícil, mas vale a pena. Quando você estiver a ponto de matar o consultor
ou analista de sistemas, respire. Implante, migre e ajuste. Ajuste quantas
vezes forem necessárias, mas eu afirmo que será muito pior voltar atrás. Quanto
mais você conhecer do sistema WMS, mas automatizada será a sua operação
logística e no final deste processo você terá bastante tempo disponível para
fazer o que todo gestor deveria fazer, investir 80% do seu tempo focado em
ações estratégicas que trazem resultados reais para sua empresa e não apagando incêndios
ou resolvendo assuntos operacionais.
Gostaria de terminar esse artigo com os 3 dizeres
de Albert Einstein, pois para mim são os melhores conselhos que eu vos posso
oferecer. Espero que essas dicas sejam úteis para o seu projeto de implantação
de WMS, sucesso e boa sorte!
“A mente que se abre
a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original.”
“O único lugar onde o
sucesso vem antes do trabalho é no dicionário.”
“Não há nada que seja maior evidência de
insanidade do que fazer a mesma coisa dia após dia e esperar resultados
diferentes.”