terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Dicas de como implantar um sistema WMS



No artigo Tudo o que você queria saber sobre WMS em 5 perguntas, tentei explicar da forma mais didática possível o que é, o que faz, as vantagens e desvantagens e quais os principais desafios de se implantar um sistema WMS. Desta vez, concluindo a série WMS, darei dicas de como implantar esse sistema.


1ª DICA - NÃO É PRA TODO MUNDO.


A verdade é que ter uma operação logística automatizada não é uma dádiva divina, requer muito trabalho, por isso nem todas as empresas estão preparadas para utilizar o WMS. Antes de se aventurar na implantação deste sistema faça uma análise de sua estrutura e processos logísticos. Uma das características mais marcantes do sistema é a classificação das áreas do armazém em PICKING (separação rápida de itens não consolidados) e PULMÃO (armazenagem de itens consolidados), estão se a sua estrutura física de armazenagem não possibilitar esta adaptação será necessário investir em novas estruturas de armazenagem. Vou dar um exemplo, se a estrutura de armazenagem de sua empresa é constituída apenas de DRIVE-IN (estrutura porta pallet com diversos níveis de profundidade), como criar um sistema de picking? Você deve estar se perguntando, mas não é possível realizar a operação sem uma área de picking? É possível, assim como é possível dirigir um carro apenas com os pés, mas será que é o melhor a fazer? Talvez eu tenha exagerado na comparação, mas todos os processos automatizados que são o diferencial deste sistema estão atrelados à área de picking, então o resultado de sua implantação será muito menos recompensador sem a criação desta área. 


Analise os seus processos, se a sua empresa dá entrada em notas fiscais sem o material físico e fatura sem saldo em estoque, eu não lhe recomendo esse sistema. O WMS foi concebido para controlar o saldo FÍSICO da empresa, diferentemente dos módulos de controle de estoque tradicionais que focam no saldo CONTÁBIL, por isso ele é bastante restritivo quanto a movimentação física do estoque. Não vejo motivo algum de se implantar um sistema para burlar suas regras o tempo todo.


Analise a sua estrutura de TI (tecnologia da informação), a automação do WMS com coletores de rádio frequência ou RFID vão necessitar que esse setor trabalhe em outro patamar, principalmente o RFID, por isso se o seu analista de TI for o sobrinho da esposa de seu chefe que sabe instalar impressoras, pare e pense! É melhor ter uma operação com papel mais lenta do que uma operação automatizada parada.


Visite outros clientes da empresa de software que já utilizam o WMS, analise a operação deles e compare com a sua. Seria prudente contratar uma consultoria de logística para fazer uma análise e diagnóstico de sua operação, caso não seja viável contratar este serviço, peça ajuda a outros profissionais de logística dentro de seu networking.


2ª DICA – ATENÇÃO TOTAL AO CADASTRO.


Provavelmente é a tarefa mais negligenciada de toda a empresa, pois é trabalhosa e chata de fazer bem feito, mas o cadastro é o divisor de águas entre o sucesso e o fracasso de um sistema WMS. Pense nisso, um software processa as informações inseridas e apresenta um resultado, portanto se você inserir LIXO no sistema o resultado será LIXO PROCESSADO. Um das funções automatizadas mais interessantes desse sistema é a sugestão automática de armazenagem que utiliza a volumetria da caixa (m3) e compara com disponibilidade de espaço nas áreas de armazenagem (m3), por isso se o seu cadastro negligencia as informações logísticas dos produtos (peso, volume, unidade de medida, tipo de embalagem, etc.) esta função e muitas outras não vão funcionar.


Aconselho a revisar o cadastro antes de iniciar a implantação do WMS. Elimine itens inativos, complete as informações logísticas dos itens ativos e crie um procedimento de cadastramento de novos itens que não permita cadastros incompletos. Se você não tiver alguém na equipe que possa executar esta revisão, contrate um estagiário, os de engenharia de produção costumam ser os mais produtivos, mas não implante o WMS com um cadastro mal feito.


3ª DICA – CUIDADO COM AS CUSTOMIZAÇÕES.


Não caia na tentação de modificar o sistema para atender aos seus processos, ao seu jeito de trabalhar, adeque os seus processos a lógica do sistema sempre que possível. A maioria dos sistemas WMS foram desenvolvidos com diversos clientes de benchmarking e na maioria das vezes utilizam as melhores práticas de gestão do mercado, por isso tente segui-las.


A solução padrão não vai lhe atender 100%. Isto é fato! Então alguma coisa você necessitará customizar por isso lhe darei 3 sugestões:

    1) Defina um escopo de projeto muito bem detalhado, especificando TODAS as entregas. Não importa que pareça insignificante, se for uma entrega de projeto, COLOQUE NO CONTRATO.

    2) Não mude o escopo. Uma vez aprovado o escopo de trabalho não MUDE-O, se for necessário termine o projeto e contrate mais customizações, mas não mude o escopo, pois abrirá um precedente perigoso no contrato.

    3) Descreva com a maior riqueza de detalhes possível como será validada cada entrega do projeto e mantenha o poder de decisão final SEMPRE em suas mãos.


4ª DICA – ESCOLHA OS EQUIPAMENTOS ADEQUADOS


Quando uma empresa decide implantar um software como o WMS que depende de equipamentos especializados (coletores de dados, antenas WIFI ou RFID e impressoras térmicas ou de RFID) a escolha dos equipamentos certos pode ser um desafio. Se o projeto de implantação for independente (sem consultoria externa) ou em parceria apenas com a empresa de software, aqui vai uma dica valiosa: escolha um fornecedor de equipamentos de grande porte e solicite a ajuda deles no dimensionamento dos equipamentos do projeto. Você não precisa necessariamente comprar com eles, mas terá uma noção exata do que precisará e ainda receberá uma consultoria técnica gratuita. Não estou dizendo para você ser desonesto, os grandes distribuidores de equipamento sabem como o mercado funciona e aqui vai o pulo do gato, uma vez cadastro o seu CNPJ junto ao fabricante dos equipamentos como a Motorola, NINGUÉM no Brasil lhe oferecerá um preço melhor, a Motorola garante o melhor preço para quem registrou a oportunidade SEMPRE, por isso vale muito a pena investir tempo com a consultoria técnica aos clientes.


Alguns cuidados na hora de escolher os equipamentos:

- Dimensione bem a quantidade de operadores que utilizarão coletores de dados e compre pelo menos 1 reserva; 


- Compre baterias extras para cobrir toda a sua demanda. Cada bateria dura em média 7 horas então se a sua empresa opera 24hs você necessitará de 2 baterias reservas para cada coletor;


- Defina bem o tipo de coletor e impressora para o ambiente de trabalho. Os equipamentos possuem diversos níveis de blindagem contra umidade e poeira, por isso não adianta comprar a impressora mais barata feita para escritório e colocá-la no galpão, pois a poeira irá destruí-la em questão de meses;


- Se a sua empresa possui câmara fria compre equipamentos apropriados para esse ambiente, coletores e antenas comuns não resistem muito bem a temperaturas negativas;


- Cuidado com as “sombras” de sinal das antenas no armazém. Compre a quantidade certa de antenas e lembre-se que quanto mais próximo a estrutura porta pallet estiver do teto do armazém maior será a sombra de sinal;


- Defina os modelos de etiqueta que serão utilizados e se possível compre uma impressora para cada tipo de etiqueta. Geralmente o formato da etiqueta de expedição é muito maior do que o formato utilizado para a armazenagem, por isso se você comprar apenas uma impressora terá de trocar a bobina várias vezes ao dia o que diminuirá a vida útil do equipamento além atrasar a operação;


- Tenha um equipamento de reserva sempre que o mesmo impactar significativamente a sua operação, no exemplo da impressora, caso você utilize dois tipos de etiquetas e terá uma impressora para cada tipo, ou seja, duas impressoras, não há necessidade de ter uma impressora reserva já que na pior das hipóteses você poderá trocar a bobina da impressora de acordo com a necessidade da operação enquanto a outra impressora está consertando, entretanto se a sua operação demandar apenas um tipo de etiqueta compre uma impressora reserva, nem que seja uma de mesa mais barata, mas não dependa apenas de um equipamento.


- Se comprar equipamentos Motorola, compre a garantia estendida chamada SERVICE FROM START, o SLA deles é de 24hs para coletar o seu equipamento defeituoso e se o conserto for demorar eles substituem o equipamento danificado por outro. Não sei como outras marcas tratam a garantia estendida, mas acredito que sigam os padrões Motorola.


5ª DICA – NÃO TENTE IMPLANTAR 100% DAS FUNCIONALIDADES DE UMA SÓ VEZ


Geralmente os sistemas WMS possuem uma gama vasta de funcionalidades, por isso não caia na tentação de querer todas elas de uma só vez, pois o projeto de implantação ficará longo e custoso demais. Inicie com as funções básicas de rastreabilidade e o mínimo de automação, ressuprimento automático da área de picking e sugestão automática de picking são um excelente começo. Garanta que todas as etapas do processo estão integradas com os coletores de dados, como recebimento, conferência cega de recebimento, armazenagem, mudança de endereço de armazenagem, picking e conferência cega de expedição. Deixe a sugestão automatizada de armazenagem e o packing automático (empacotamento) para um segundo momento, pois estas funcionalidades requerem uma matemática bastante complexa que será melhor compreendida e aplicada após um período de familiarização com o sistema. 


6ª DICA – VENDA A IDÉIA


Depois de realizar uma análise da situação atual da estrutura logística e compará-la com um estado futuro otimizado pelo sistema WMS, os diretores e os principais executivos de sua empresa vão comprar o projeto, disso eu não tenho dúvida. Agora não se esqueça de vender o projeto para os outros stakeholders, os demais envolvidos que serão impactados pela mudança do sistema, mas sobretudo pela mudança de filosofia de trabalho. O WMS visa mitigar erros humanos por isso ele é bastante restritivo com relação as movimentações de estoque e como disse na primeira dica, não há muito espaço para “jeitinhos”. Essa mudança cultural geralmente é traumática, pois as outras partes não entendem os ganhos logísticos e quando são de outras áreas, acreditam que as mudanças apenas dificultarão o seu trabalho. Faça uma apresentação para todos os envolvidos, explique todos os ganhos para a empresa, mas principalmente mostre os ganhos para o departamento de cada envolvido. Mesmo fazendo uma excelente apresentação ainda assim haverá resistência e a melhor maneira de superá-las é com um PATROCINADOR de peso, de preferência o presidente ou dono da empresa, aquele que diz será assim e pronto! 


7ª DICA – VALIDE BEM O SISTEMA ANTES DE MIGRAR


No artigo anterior, Tudo o que você queria saber sobre WMS em 5 perguntas, expliquei o desafio de migrar o sistema. Esse processo é bastante trabalhoso, pois todos os itens, cada embalagem de armazenamento, terá de ser processada, etiquetada e validada pelo coletor de dados. Não se apresse para migrar, confirme que todos os parâmetros estão corretos, que todos os cadastros estão coerentes, que a estrutura de tecnologia da informação está confiável e que todos os BUGs foram tratados, antes de iniciar a migração.


8ª DICA – PLANEJE A MIGRAÇÃO


Depois de validar o sistema você está pronto para migrar e começar a operar pelo WMS, mas espere. Planeje a migração, será toda de uma só vez num final de semana ou aos poucos? Se a sua empresa possuir mais de um armazém você irá migrar todos simultaneamente ou um por vez? Antes do migrar a empresa inteira talvez você queira migrar apenas uma família de produto para testar o sistema na base de produção, pois como dizia o Romário, “treino é treino, jogo é jogo”. Se você planejar cada passo da migração eu garanto que irá migrar uma vez só, caso contrário, que Deus lhe guie!


9ª DICA – NÃO DESISTA


A última dica, mas talvez a mais importante é não desista! Será difícil, mas vale a pena. Quando você estiver a ponto de matar o consultor ou analista de sistemas, respire. Implante, migre e ajuste. Ajuste quantas vezes forem necessárias, mas eu afirmo que será muito pior voltar atrás. Quanto mais você conhecer do sistema WMS, mas automatizada será a sua operação logística e no final deste processo você terá bastante tempo disponível para fazer o que todo gestor deveria fazer, investir 80% do seu tempo focado em ações estratégicas que trazem resultados reais para sua empresa e não apagando incêndios ou resolvendo assuntos operacionais.


Gostaria de terminar esse artigo com os 3 dizeres de Albert Einstein, pois para mim são os melhores conselhos que eu vos posso oferecer. Espero que essas dicas sejam úteis para o seu projeto de implantação de WMS, sucesso e boa sorte!
 

 “A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original.”


“O único lugar onde o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário.”


 “Não há nada que seja maior evidência de insanidade do que fazer a mesma coisa dia após dia e esperar resultados diferentes.”

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Tudo o que você queria saber sobre WMS em 5 perguntas



Quando decidi escrever este artigo iniciei por pesquisar fontes na internet e o que encontrei foram teorias vazias e promessas revolucionárias, mas o que é DE VERDADE o WMS? Para facilitar o entendimento vou dividir este artigo em 5 perguntas chave.

1) O QUE É WMS?
Primeiro veremos as definições acadêmicas:

Warehouse Management System (WMS), ou Sistema de Gerenciamento de Armazém, é uma parte importante da cadeia de suprimentos (ou supply chain) e fornece a rotação dirigida de estoques, diretivas inteligentes de picking, consolidação automática e cross-docking para maximizar o uso do valioso espaço dos armazéns. O sistema também dirige e otimiza a disposição de "put-away" ou colocação no armazém, baseado em informações de tempo real sobre o status do uso de prateleiras.” (Donath, 2002, p. 134)

Adoro essas definições acadêmicas, me lembram os discursos políticos que tentam dizer muito sem efetivamente dizer nada. Agora me diga caro leitor, você entendeu alguma coisa? Eu posso dizer que conheço muito bem esse sistema já tendo implantado alguns deles, entretanto tive de me esforçar para fazer algum sentido desta definição, mas se você estiver iniciando no mundo logístico provavelmente não entendeu absolutamente nada. Vou tentar definir mais realisticamente. Eu definiria o Sistema de Gerenciamento de Armazéns como:


Um sistema desenvolvido para aperfeiçoar a operação logística DENTRO dos armazéns, através da TOTAL RASTREABILIDADE das mercadorias em todas as suas movimentações, do momento de seu recebimento até a sua expedição. Aplica uma visão urbanística a distribuição dos espaços dentro dos armazéns LOTEANDO-OS em áreas NOBRES e SECUNDÁRIAS, com o objetivo de agilizar o processo de separação e expedição das mercadorias. O sistema oferece informações gerenciais focadas no universo logístico permitindo aos gestores acompanharem e qualificarem TODAS AS ETAPAS das operações dos armazéns.


Vou explicar passo a passo a minha definição, mas antes, vocês notaram que tentei não usar palavras em inglês na definição? Se você é novo no universo logístico aqui vai um conselho, vai se acostumando com as terminologias em inglês, pois elas dominam o dia a dia dos profissionais de logística.


- “Um sistema desenvolvido para aperfeiçoar a operação logística DENTRO dos armazéns...” – aqui ressalto duas definições importantes sobre este sistema, a primeira é que diferentemente dos módulos de controle de estoque tradicionais que focam muito mais no controle contábil da mercadoria, o WMS foi desenvolvido para as operações logísticas e visa controlar a parte FÍSICA do estoque, por isso, na maioria das vezes o WMS é interligado ao módulo estoque dos ERPs (sistemas corporativos) que fazem o controle contábil das mercadorias. Segundo, o WMS foi desenvolvido para as operações DENTRO dos armazéns, todo o processo externo não faz parte deste sistema, o WMS inicia seu trabalho quando o caminhão se registra na portaria e termina quando ele vai embora com a carga que veio buscar ou vazio após deixar as mercadorias destinadas à empresa. Podem existir sistemas WMS que controlem as operações externas? Podem, mas eu não os conheço e posso afirmar que foram desenvolvidos para um cliente específico e depois lançados no mercado.


-“através da TOTAL RASTREABILIDADE das mercadorias em todas as suas movimentações...” – o WMS atribui um código único aos itens (como o sistema de rastreamento dos correios) quando entram no armazém, podendo ser no momento do recebimento ou da produção. Esse código único contém todas as informações da unidade de armazenagem (caixa, pallet, tanque) do item, relacionando informações como lote, data de validade, pedido de compra ou ordem de produção, conferente e fornecedor a este código. Uma vez atribuído o código ao item, todas as movimentações passam a ser rastreadas, incluindo a armazenagem, mudança de endereço de armazenagem, mudança de área produtiva, utilização na produção de outros itens, inventário, enfim, tudo o que ocorre com aquela unidade controlada por aquele código dentro do armazém. Vou exemplificar para facilitar o entendimento:

·         Um pallet de arroz chega ao armazém e recebe um código de rastreamento WMS. Esse código contém informações quanto ao lote, data de validade, fornecedor e data de recebimento deste pallet de arroz;

·         Um operador de empilhadeira leva o pallet até a área de armazenagem. O sistema registra o local de armazenamento, quem foi o operador de empilhadeira que levou o pallet até a localização e quanto tempo ele levou para realizar a tarefa;

·         Esse pallet é selecionado para reabastecer a área de picking (área de separação de unidades não consolidadas, nesse exemplo fardos de arroz). O WMS valida se este lote é o mais antigo (FIFO) ou tem a data de validade expirando primeiro (FEFO), caso a validação seja positiva o sistema registra de onde saiu o pallet, quem levou o pallet para área de picking e quanto tempo foi gasto nesta operação.

·         Fardos deste pallet são selecionados para faturamento. Registra-se quais são os pedido que os fardos daquele código estão relacionados, ou seja, quem comprou aqueles fardos, quem separou, quem conferiu, o tempo gasto para todas essas etapas, quais a notas fiscais e quais caminhões carregaram os fardos.


Como podem ver quando digo que o WMS rastreia todas as movimentações dos itens eu não estava mentido, ele realmente não deixa nada de fora. Podem haver sistemas WMS que não rastreiem todas essas etapas? Podem, mas não são os principais do mercado e provavelmente foram desenvolvidos para um cliente específico.


-“uma visão urbanística a distribuição dos espaços dentro dos armazéns LOTEANDO-OS em áreas NOBRES e SECUNDÁRIAS...” - parece que eu quis dificultar o entendimento, mas realmente é o que acontece. O WMS classifica as localizações como PICKING e PULMÃO, sendo picking classificado como área nobre, as mais próximas da expedição e/ou as de mais fácil acesso. As áreas de pulmão são as áreas secundárias, onde fica armazenada a maior parte do estoque aguardando o pedido de reabastecimento do picking ou pedido de venda para lotes fechados. Quando digo “loteando”, pense num loteamento de um novo bairro ou condomínio. O endereçamento do WMS é distribuído em BLOCOS, RUAS, PRÉDIOS e APARTAMENTOS, alguns sistemas classificam os prédios como colunas e os apartamentos como níveis. Toda essa engenharia visa agilizar a separação e expedição dos itens.


-“... permitindo aos gestores acompanharem e qualificarem TODAS AS ETAPAS das operações...” – Acredito que no exemplo do fardo de arroz ficou claro o que quis dizer com “todas as etapas”. É possível analisar a eficiência de cada operador e operação, qualificando equipes, turnos, família de produtos, o que os gestores desejarem saber sobre a operação logística. Talvez seja necessário customizar um relatório para atender as necessidades específicas dos gestores, mas a informação certamente estará no banco de dados.
  
2) O QUE FAZ (QUAIS AS PRINCIPAIS FUNCIONALIDADES)?

Após a explicação do que é WMS, você já deve entender um pouco do que faz este sistema. 


- Rastreamento de todas as movimentações de todos os itens armazenados;

- Classificação das áreas do armazém em áreas nobres e secundárias a fim de aperfeiçoar o processo de separação e expedição dos itens;

- Gera tarefas de reabastecimento das áreas de picking automaticamente;

- Conferência cega de recebimento e expedição;

- Aplica cálculos matemáticos para atribuir as áreas de armazenagem de acordo com o giro dos produtos;

- Mitiga o erro humano através da integração com coletores de dados e confirmação de cada operação pela leitura de código de barras;

- Quando integrado com coletores de dados, automatiza a gestão das tarefas e elimina a necessidade de pedidos impressos;

- Controla a produtividade de cada operador e operação on-line;

- Gerenciamento inteligente das docas de recebimento e expedição, facilitando operações de cross-docking;

- Disponibiliza um mapa detalhado de utilização das áreas de armazenagem.

Existem diversas outras funcionalidades secundárias bastante interessantes, mas seu eu for citar todas elas esse artigo ficará demasiadamente logo, fora que as funcionalidades podem variar dependendo de quem o desenvolveu o software, mas basicamente todos realizam as operações que mencionei acima.

3) QUAL A DIFERENÇA EM O WMS E UM GERENCIADOR DE ESTOQUE TRADICIONAL?
 
Eu diria que a diferença crucial seria que o WMS foi concebido visando o controle FÍSICO do estoque enquanto um sistema tradicional visa o controle CONTÁBIL. Qual a diferença? No controle contábil os movimentos que interessam são as entradas e as saídas dos produtos, quando muito algum processo de transformação, como produção, que por ventura possa modificar a classificação fiscal do item, não interessa muito as movimentações internas dos itens. Já no WMS as movimentações internas são a espinha dorsal do sistema, pois o controle é físico. Se eu tivesse que descrever o WMS em apenas uma palavra seria RASTREABILIDADE.

4) QUAIS AS 5 PRINCIPAIS VANTAGENS E DESVANTAGENS DESTE SISTEMA?

Vantagens:

    a) Rastreabilidade total dos itens no armazém

    b) Mitigação do erro humano na operação através da automação

    c) Uso inteligente do espaço

    d) Integração com coletores de dados e eliminação do papel na operação

    e) Ganho exponencial de informações logísticas


Desvantagens:

    a) Difícil de implementar

    b) Alto investimento inicial em software e hardware

    c) Resistência dos operadores (choque cultural)

    d) Escassez de mão de obra qualificada

    e) Requer disciplina corporativa



    5) QUAIS OS PRINCIPAIS DESAFIOS NA IMPLANTAÇÃO?


- Requer um cadastro de produto completo com todos os dados logísticos atualizados, incluindo dimensão e peso das embalagens unitárias, de armazenagem e expedição;

- Necessita de adequação dos processos internos e não apenas os logísticos, pois o sistema é bastante restritivo devido a sua característica de mitigação de erro humano;

- Migração demorada, requer que cada SKU e unidades de armazenagem sejam abordadas sistemicamente, etiquetadas e transferidas;

- Saber limitar o escopo. Não cair na ilusão de implantar 100% das funcionalidades de uma só vez, o sistema é muito abrangente;

- Requer customização. Não importa qual sistema você irá implantar, fatalmente necessitará de alguma customização.


A lista de desafios pode parecer desanimadora, mas eu garanto que o sistema vale a pena, o ganho de informações e controle sobre a operação são sem precedentes numa operação logística tradicional. Tudo o que eu discuti neste artigo, as vantagens e desvantagens, os desafios, as funcionalidades, são do ponto de vista de quem implantou mais de um sistema WMS e utiliza este sistema atualmente. Tenho certeza que vendedores de software vão lhe prometer ganhos excepcionais e uma implantação tranquila, mas posso lhe afirmar que será apenas conversa de vendedor. A implantação é complexa e requer um nível de maturidade corporativa que nem todas as empresas possuem, portanto essa nova realidade poder ser um tanto quanto traumática. Esteja preparado para resistência interna, já vi casos em que os operadores quebravam os coletores de dados para não terem seus desempenhos avaliados, portanto venda a ideia antes de iniciar a implantação.


Bem, esse artigo já está muito maior do que previ, por isso escreverei outro focado em dicas de como implantar o WMS. Até a próxima!

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Logística desatualizada

     Recentemente um dos meus analistas de estoque me pediu para revisar o artigo de conclusão do MBA com especialização em logística que ele havia escrito e ao revisar o artigo fiquei bastante surpreso, mas não de uma forma positiva, já que o artigo não fazia muito sentido. Ao perguntá-lo quais eram as fontes de seu artigo ele me respondeu que havia pesquisado basicamente em livros e artigos na internet, o que me fez pensar se a teoria está realmente tão distante da realidade assim e após alguma consideração cheguei à conclusão que sim.


  “A Logística é o processo de gerenciar estrategicamente a aquisição, movimentação e armazenagem de materiais, peças e produtos acabados (e os fluxos de informações correlatas) através da organização e seus canais de marketing, de modo a poder maximizar as lucratividades presente e futura através do atendimento dos pedidos a baixo custo”. (CHRISTOPHER, 1997)

     Quando li a descrição de logística acima no artigo de meu analista comecei a repensar meus conceitos de logística, alguém necessariamente deveria estar errado o Prof. Christopher ou eu, pois em minha opinião, “... o processo de gerenciar estrategicamente a aquisição...” está relacionado ao departamento de compras, inclusive existe um termo para isso chamado strategic sourcing ou quando tratar-se de gestão estratégica de contratos de compra ou serviços chamamos de procurement. Então como logística poderia ser o processo de gerenciar estrategicamente a aquisição, o que aconteceu com o supply chain (gestão da cadeia de suprimentos)? E que história é essa que a logística tem que gerenciar matérias e informações através dos canais de marketing? Tudo bem que o livro abrange os dois universos, marketing e logística, mas é fácil entender como essa definição pode confundir estudantes como o meu analista. Por fim o objetivo seria o atendimento dos pedidos a baixo custo, o que aconteceu com agregar valor?

     Na prática o departamento de logística e suas atribuições variam de empresa para empresa. Gerencie projetos em diversas empresas de vários setores e a abrangência do setor logístico variava em cada um deles, por exemplo, num projeto de start-up (nova fábrica) de uma estamparia automotiva fornecedora da FIAT que gerencie, o escopo do projeto era de planejar todos os equipamentos, processos e sistemas do setor logístico, mas nessa empresa o setor logístico englobava muito mais do que o de costume, incluindo o setor de PCP (planejamento e controle de produção), o setor produtivo (prensas e células de solda robotizadas e estacionárias), a armazenagem e toda a movimentação in-bound (interna), porém curiosamente os setores de expedição e recebimento não faziam parte do departamento logístico, portanto ficaram fora do escopo. Tive um imenso trabalho projetando os layouts de todas as estações de trabalho, pois de acordo com a cultura organizacional desta empresa essa incumbência pertencia à logística. 

     Na empresa que trabalho atualmente o departamento logístico se torna responsável pelo material apenas quando o mesmo chega num de nossos armazéns, todo o processo anterior desde o envio pelo fornecedor nacional ou estrangeiro até a chegada do caminhão em nossa porta é de responsabilidade do setor de importação e compras, estão eu não preciso me preocupar com frete internacional ou com o transporte do porto até o armazém. Numa indústria de bebidas em que trabalhei o setor de expedição era um departamento totalmente independente, já na empresa que trabalho atualmente está ligado ao departamento de logística.

Então como definir o que é logística? Eu diria que:

São todos os processos gerenciais e operacionais relacionados à movimentação, armazenagem, controle e adição de valor a bens e serviços a fim de atender as expectativas dos clientes externos e internos gerando o máximo de retorno possível (financeiro e de imagem) a empresa sem comprometer a qualidade ou valores éticos e legais. 

     Senti-me um verdadeiro acadêmico com essa definição, mas acredito que engloba tudo que penso ser importante na caracterização do seja logística já que:


- O processo de compras engloba toda a negociação com o fornecedor, minimamente até o momento do embarque da mercadoria na doca do fornecedor (incoterm EXW), mas na maioria das vezes até o desembaraço aduaneiro no caso de importados.

- O primeiro envolvimento do departamento de logística se inicia com a primeira MOVIMENTAÇÃO, o embarque da mercadoria no fornecedor.

- O segundo envolvimento do departamento de logística está no processo de ARMAZENAGEM e todas as atividades que giram entorno deste processo como conferência, etiquetagem, definição de localização de armazenagem e o transporte interno até a localização definida.

- O terceiro papel desempenhado pela logística está relacionado ao CONTROLE, onde eu incluiria todas as atividades de inventário, controle de qualidade, controle das informações e controle dos custos.

- O quarto e talvez mais importante é a ADIÇÃO DE VALOR, já que segundo a teoria da cadeia de valor (value chain) toda a atividade que não agregue valor ao processo deve ser eliminada, e poderíamos citar atividades como montagem de kits e o empacotamento (packing) das mercadorias de acordo com os pedidos de venda.

- Atender as EXPECTATIVAS DOS CLIENTES EXTERNOS está relacionado à capacidade de entregar o produto desejado dentro de padrões de qualidade, prazo e custo considerados satisfatórios, o mesmo vale para o CLIENTE INTERNO como matéria-prima para a produção por exemplo.

- GERAR RETORNO para empresa pode ser dividido em duas partes. A primeira seria FINANCEIRA através do controle de custos e adição de valor aos produtos, já a segunda seria de IMAGEM com ações que satisfaçam os clientes e os fidelizem a empresa, por exemplo, a Amazon é considerada a empresa mais inovadora e confiável no campo logístico do mundo e por essa inovação e confiabilidade os seus clientes estão dispostos a pagar mais do que na concorrência.

- Já a parte de não COMPROMETER A QUALIDADE OU VALORES ÉTICOS E LEGAIS tem haver com a forma de gerar esse retorno. Poderíamos gerar mais retorno financeiro para empresa se contratássemos mão de obra com salários muito abaixo do mercado (semiescrava), mas seria ético? Poderíamos gerar mais valor alterando o valor da nota fiscal, mas seria legal?


Futuro drone de entregas da Amazon em teste nos EUA.
      O meu objetivo com esse artigo é de gerar uma reflexão não somente sobre a definição do Prof. Martin Christopher (Prof. Emérito de marketing e logística da Universidade Cranfield e autor de diversos livros) que certamente é muito mais qualificado do que eu academicamente, mas sobre como podemos utilizar definições de 1997 para definir uma área tão dinâmica como a logística. 

    Desde 1997 surgirão tantas novidades na gestão logística como a utilização de sistemas para automatizar a operação como o WMS (warehouse management system) para os armazéns, controle de frotas como o TMS (transportation management system) e roteirizadores integrados a GPS, além de tecnologias como coletores de rádio frequência, RFID, RTLS e até DRONES para fazer entregas. 

    Não posso culpar o professor Christopher por sua descrição desatualizada, pois 17 anos é simplesmente tempo demais para definir a nossa logística atual, então cabe aos acadêmicos atuais, professores e alunos, buscarem literaturas mais atualizadas para ensinar aos futuros profissionais de logística como definir nossa profissão.